A corrida por uma marca avaliada em bilhões pode cegar para a real vocação Econômica da nossa região (no sentido amplo da palavra)
Estranho ao imaginário Amazônico em todos os sentidos, o Unicórnio é um ser mitológico cultuado no universo do empreendedorismo e startups – a partir de sua associação às (raras) empresas que atingem valor de mercado superior a U$ 1 bilhão (aproximadamente R$ 5 bilhões) em até 10 anos de mercado.
A origem do termo é atribuída à investidora-anjo Aileen Lee, que escreveu um artigo falando da ascensão meteórica do Instagram, até sua aquisição bilionária pelo Facebook. Ao fazer menção à “primeira empresa Unicórnio do mundo”, criou uma legião de perseguidores deste mesmo feito – como forma de medir seus êxitos pessoais, profissionais e financeiros.
Apesar da imagem visionária destes negócios ser constantemente associada a uma ou poucas pessoas com uma ideia miraculosa e genial (Marks, Jeffs e afins), normalmente um negócio se torna Unicórnio com estrutura e investimentos robustos focados em uma consciente atração de capital. Ou seja: muitos dos que compram esta ideia e confabulam em suas cabeças solitárias estão fadados à ilusão e frustração nesta busca.
Mesmo uma ideia revolucionária precisa de uma conjunção de fatores para ser um negócio que alcance este valor de U$ 1 bi – sendo alguns critérios subjetivos ou meramente especulativos. Além do potencial de demanda e da perseguida escala, há por trás um forte jogo de interesses para que atribua-se tal valor convenientemente a uma ideia, ferramenta ou produto/serviço. Para tal, é criado um jogo de mídia e imagem que envolve maciço investimento prévio – o que não é para qualquer um.
Dito tudo isso, compartilho minha opinião sobre o que tenho acompanhado recentemente de matérias que promovem essa busca ao Unicórnio na Amazônia – em certa ocasião até rebatizado de “Mapinguari“(!!!). Compreendo a vontade do crescimento e sucesso que mobiliza muita gente, mas me ressinto de como este conceito é contraproducente para a nossa vocação econômica. Em minha singela opinião, a produção de riquezas local está na prosperidade das cadeias produtivas e cultura local por meio da atribuição de valor a insumos e produtos materiais e imateriais beneficiados localmente, buscando mercados que melhor percebam valor em nossas ofertas e contribuam para o comércio justo. E nada nesta dinâmica diz respeito a acúmulo de riquezas em um único CNPJ e poucos CPFs.
O caso das Americanas está aí pra provar que bilionários são bilionários em detrimento ou às custas de algo ou alguém. E um Unicórnio desses que se instaure na Amazônia seria capaz de desordenar o bioma e suas dinâmicas socioeconômicas. A explosão do açaí já representou perversões à cadeia, jogos de interesses, disputas de poder e políticas de monocultura com queda da qualidade do fruto. Será que é realmente o caso de continuarmos a procurar chifre em cabeça de cavalo?
Por Berna Magalhães – Fundador e Diretor de Criação e Sentido na Libra