O Pará é o maior produtor de cacau do Brasil, sendo responsável por quase 50% da produção do país. Em 2021, foram mais de 146 mil toneladas de amêndoas produzidas, em um total de 210 mil hectares de área plantada, o que corresponde a mais de 220 mil campos de futebol. Nativo ou plantado, o cacau promove a floresta em pé, pois é uma cultura que convive em harmonia com outras espécies de árvores e não necessita de grandes áreas desmatadas para se produzir. Hoje, a agricultura familiar é a principal responsável pelo cultivo do cacau na região, tendo a produção um rendimento médio de 977 quilos por hectares, valor acima da média nacional que é de 520.
Apesar do lugar de destaque e os dados econômicos interessantes, recentemente, em maio deste ano (2022) cerca de 3 mil produtores dos municípios de Tucumã, Ourilândia do Norte e São Félix do Xingu suspenderam a venda das amêndoas para as cooperativas do Sul do Pará, responsáveis pela comercialização do produto para os grandes compradores nacionais. O motivo é o baixo preço pago no quilo da amêndoa aos produtores. Para eles o valor pago está na contramão do mercado, pois “tudo está subindo de preço, inclusive os insumos que necessitam para a produção e o valor da amêndoa de cacau vêm caindo”.
Olhando este cenário a pergunta que fica é: como aproveitar o potencial produtivo da região para essa cultura, respeitando as peculiaridades locais e proporcionando uma melhoria na qualidade de vida dos produtores da região?
Em Nota Técnica divulgada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), sobre a Conjuntura da Economia Cacaueira Paraense em 2022, é possível perceber que o destaque que o Pará tem fica apenas em relação a quantidade produzida, o que não se reflete positivamente em outros pontos analisados, como investimentos e comercialização externa verticalizada.
Por exemplo, de R$ 24,4 milhões de recursos injetados na atividade via crédito rural no Estado do Pará em 2021, 58% foi destinado a custeio da atividade e 42% a investimentos. Comparando com a Bahia, que possui produção menor porém maior quantidade de recursos injetados (R$ 82 milhões), 80% foram destinados a investimentos. Esses dados refletem na industrialização e verticalização da cadeia e consequentemente no desempenho econômico.
Quando analisamos o desempenho do cacau bruto e dos derivados, percebe-se claramente o quanto o Pará precisa aprimorar a cadeia para deixar de ser simplesmente fornecedor de amêndoa. Considerando o valor exportado em 2021 no Pará, quase 100% correspondeu ao cacau bruto, enquanto que na Bahia o cacau bruto foi apenas 2% de todo o valor exportado. 98% do valor exportado pela Bahia correspondeu ao cacau em pó.
Analisando o valor exportado dos derivados de cacau, é possível perceber que não houve exportação de nenhum Kg de óleo, manteiga, gordura e pasta de cacau nos últimos 24 anos advindo da produção paraense. Sendo estes dois derivados os principais buscados pelo mercado externo. Em 2021, enquanto o Pará teve US$ 10.887.292 de valor exportado de outros derivados de cacau, a Bahia teve um total de US$ 162.137.095. Uma diferença significativa.
Olhando esses dados e a realidade demonstrada pelos produtores em protesto ao preço da amêndoa é importante destacar a necessidade de que ações macro sejam pensadas e articuladas pelo Estado, para garantir uma agregação de valor ao produto paraense. Principalmente, tendo como foco o contexto atual da bioeconomia, alinhando o uso de tecnologia, as demandas de conservação ambiental e principalmente com olhar atento à sustentabilidade econômica dos produtores locais e o impacto nas comunidades.
Por isso, é visto como bastante positivo eventos como o Chocolat Xingu 2022, que atraiu os olhares do Brasil e do mundo para a região – saindo do eixo das capitais e encontrando os produtos em sua origem. O impacto dessa iniciativa veremos nos próximos meses, com a maior articulação e consistência dos produtores e uma cadeia produtiva mais integrada, com ganhos sistêmicos por um chocolate do Xingu mais valorizado em nosso e em outros mercados.