Artigo apresentado no VI Congresso Internacional de Branding

jan 19, 2023

Acreditamos no poder do conhecimento compartilhado e por isso trazemos neste espaço um pouco do que pesquisamos, aprendemos e pensamos sobre o universo das marcas, negócios, cadeias de valor, Amazônia e muitos outros temas que atravessam nosso dia a dia de trabalho. Aproveite, reflita e dialogue conosco!

 

Resumo

O estudo aborda o Branding como uma ferramenta estratégica e fundamental para construção de sentido de uma marca, principalmente aos negócios locais – pequenas e médias empresas – que tem como diferencial de mercado produtos criados a partir de práticas milenares, carregados de tradições familiares, conhecimento cultural e relacionados ao bioma e o clima de sua região. O artigo foi realizado a partir da participação de nossa empresa de Branding no Programa do Mercado Livre – Empreender com Impacto + Biodiversidade –  que contou com a inscrição de mais de 90 empreendimentos de impacto dos biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Os resultados apontaram o Branding como motor da economia local, destacando a importância da legitimação da procedência de origem a partir da chancela de organizações e políticas públicas e a Indicação Geográfica (IG); outra perspectiva presente neste estudo é a metodologia da Performance de Marca em 3 Eixos, utilizada para a construção de sentido das empresas atendidas pelo Programa, baseada no diagrama de Venn, buscando identificar e transmitir a Relevância, a Consistência e a Lucratividade do negócio. O propósito da aplicação do método é de promover uma reflexão a respeito dos caminhos que a marca tomará para garantir sua legitimação no mercado – o que ajuda a perceber e buscar rumos mais alinhados aos seus anseios pessoais, econômicos e sociais para perpetuação de sua existência no mundo.

Palavras-chave: Branding; Construção; Marca; Relevância; Consistência e Lucratividade.

 

Branding e o Consumo na História

Qual o sentido por trás do Branding? Apesar de ser uma ciência recente em pauta de estudos científicos e literaturas, é uma atividade com práticas milenares. Quando os fazendeiros marcavam ou embalavam seus animais e produtos derivados (queijo, leite, etc), isso representava uma forma de indicar referência e procedência, garantindo que os compradores adquirissem os produtos que já conheciam e confiavam – e carregados de sentido de tradições familiares, modos culturais e influências do clima e bioma.

 

Mesmo de forma empírica, cada produto apresentava sua origem com elementos de identificação como selos, invólucros, assinaturas, numerações de série/safra. Isto envolvia os consumidores em um universo simbólico e estético muito próprio e autêntico, bastante identificado com a essência dos produtos. Em toda a história pré-Revolução Industrial, essas produções eram de caráter familiar, rural e local. Tudo que dissesse respeito à apresentação dos produtos tinha conexão elementar com sua natureza e hereditariedade. Ou falando objetivamente, tinham muita verdade, que é a alma para um projeto de Branding.

 

Com o advento da produção em série agregando novas tecnologias e materiais, produzir não era mais somente um meio de vida – e sim, uma oportunidade mercadológica. A produção industrial buscou localização estratégica – mais próxima dos centros urbanos – e as pessoas passaram a investir conforme as tendências, buscando segmentos em alta ou que apresentassem melhores margens e maiores apelos de propaganda e consumo. Não era mais necessário um vínculo com a terra ou conhecimento e saber tradicional: o indispensável era visão de negócios e disponibilidade de investimento.

 

Neste recorte histórico, os produtos rurais e com origem ficaram presos ao consumo local em seu próprio território, muito mais por conveniência e falta de opções do que por serem produtos desejáveis e com algum valor para eles. Pelo contrário: a proximidade com a oferta a tornava banal e irrelevante. E a maioria destes produtos não chegava na cidade, em uma lógica que perdurou muitos anos, pautada no estilo de vida frenético e desenfreado das grandes metrópoles – que buscavam roupas, alimentos, moradias e artefatos cada vez mais baratos e práticos, independente do custo ambiental do material utilizado ou das práticas de trabalho empregadas.

 

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A década iniciada em 2011 foi pautada por reflexões sobre o modo de uso de recursos naturais e os impactos territoriais das escolhas de consumo. Consumidores que dispõe de maior poder aquisitivo conseguem estimar custos invisíveis não descritos nas embalagens para decidir quais produtos geram menos impactos socioambientais. As indústrias buscam alterar suas formas de produção – ou mesmo entender se seu modelo de produção e negócio ainda fará sentido para as próximas gerações. Conceitos de Economia como a Economia Donut – com alicerces ambientais e territoriais – começam a fazer sentido para muitas empresas, com a sustentabilidade na dianteira das decisões. A gestão de grandes empresas é invadida pelos princípios ESG, que passam a pautar as decisões em um olhar para as pessoas e ecossistemas.

 

Isso é uma verdadeira revolução e uma nova ordem sobre o que realmente é importante para o olhar estratégico de um negócio, e consegue balançar as certezas sobre as medidas de sucesso e progresso dos negócios, questionando as até então verdades absolutas sobre os princípios econômicos e os caminhos do empreendedorismo – que ainda era pauta nova para o brasileiro médio.

 

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Este contexto ainda não é realidade e é pouco compreendido pela maioria das empresas brasileiras – especialmente as pequenas e locais – por não garantir, ao menos à primeira vista, um retorno financeiro imediato e eficiente. Pelo contrário: usar materiais mais ecológicos e buscar melhores práticas sociais, capacitações e certificações eventualmente se caracterizam como custo, e não impactam diretamente no preço de venda. É neste ponto que o trabalho estratégico se faz necessário, convertendo as escolhas estratégicas em percepções de valor, para envolver e engajar os consumidores. Esta prática seria viável para empresas pequenas e locais?

 

Inteligentemente Local

Seguindo as tendências de consumo ditadas pelas grandes empresas e maiores mercados consumidores do mundo, os produtos que têm referência cultural e territorial estão cada vez mais em alta – e chancelados por organizações e políticas públicas. Em outubro de 2021, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) lançou um selo de identificação para produtos brasileiros que têm reconhecida sua Indicação de Procedência (IP) ou Denominação de Origem (DO) como Indicação Geográfica (IG). Esta é uma forma de gerar um senso de coletividade para os 88 produtos atualmente reconhecidos, e que consumidores do Brasil e do mundo todo possam associar este signo aos produtos com IG, para além da identificação com os sinais distintivos de cada IP ou DO.

 

O registro de Indicação Geográfica (IG) é conferido a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de os distinguir em relação aos seus similares disponíveis no mercado. São produtos que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer (know-how ou savoir-faire). (site www.gov.br, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

 

Pertencer a um território ou perpetuar uma cultura por meio de um reconhecimento como o do INPI é de suma importância para os produtos locais. Porém, John A.Quelch e Katherine E.Jocz propõe no excelente “Todos os Negócios são Locais” (2012) que os locais (ou lugares) possuem quatro facetas distintas que precisam ser manejadas: o Lugar Físico, o Lugar Psicológico, o Lugar Geográfico e o Lugar Virtual. Enquanto o Lugar Físico quer atrair o consumidor e influenciar o desejo pela disponibilidade imediata, o Lugar Psicológico busca garantir a rede de associações mentais que vincule as experiências aos espaços. Já o Lugar Geográfico tem ligação com territórios e economias locais, e o Lugar Virtual apresenta a oportunidade do uso de recursos eletrônicos para emular vivências com o local.

 

Toda essa trama de possibilidades é fruto do processo de globalização que – ao invés de isolar os locais e pasteurizar culturas – tornou possível a conexão entre diferentes fazeres e saberes e criou formas de construir narrativas psicológicas e experiências virtuais a produtos de territórios pouco acessíveis. E os produtos e marcas que possuem recursos e ferramentas para fazer isto de forma integrada e sinérgica garantem uma geração de valor além de sua atividade-chave, construindo uma percepção de “quanto pagar” que vai além da categoria do produto – e sim ancorada no desejo de ter-consumir-apresentar-incentivar uma cultura.

 

É este cenário que apresenta produtos “inteligentemente locais”, que transpiram e nutrem mais e mais de sua cultura e tradições, e conectam-se com os consumidores exatamente pelo que elas são, da forma mais original possível. Um belo exemplo disso é da primeira Indicação Geográfica brasileira no Vale dos Vinhedos, Rio Grande do Sul. Antes de ter a respeitável tradição turística que tem hoje, a cidade recebia visitantes eventuais, curiosos por conhecer o local de origem destes vinhos. Certa vez um grupo destes turistas pediu para tirar uma foto com um produtor ainda sujo do trabalho de esmagar as uvas – que pediu alguns minutos para tomar um banho e trocar de roupa. Mas o público ansiava por um registro com aquele senhor em suas vestes típicas – inclusive um dos passeios turísticos hoje em dia prevê o uso das vestes e uma breve experiência de pisar nas uvas, vivenciando esta tradicional produção de vinhos.

 

Na maré deste conceito, uma sub área do Branding começa a ganhar cada vez mais força: o Place Branding. Esta ciência vai além de uma apresentação publicitária e mercadológica de um lugar, sob a criação de uma identidade visual. A proposta é identificar as vocações de um lugar por meio de apanhado histórico de formação e ocupação para potencializar as identidades naturais de um território, visando o fortalecimento deste lugar a partir de suas verdades e características originais, ou seja, que nenhum outro local terá. E essa imagem geral se constrói a partir da pluralidade e multiplicidade presentes em cada lugar, com seus produtos, artefatos, narrativas, simbolismos, biomas e modos de vida.

 

Muito mais do que pensar apenas em vender imagens poderosas de landmarks – até porque se o desafio fosse esse, seria mais fácil -, o conceito de marca-lugar se apresenta como uma importante ferramenta para unir indivíduos em torno de uma ideia comum, logo, o Place Branding também é uma forma de engajamento. (Caio Esteves em “Place Branding – Identificando vocações, potencializando identidade e fortalecendo lugares” (2016).

 

Indicação Geográfica, Place Branding, Selos de Origem, Certificações Orgânicas, Redes Agroecológicas,  Cooperativismo, Marcas Coletivas, Bases Comunitárias estão entre os muitos conceitos de acreditação ou associativismo possíveis para garantir o alinhamento ecossistêmico da essência e origem de uma marca ou produto. E ambientes virtuais como Marketplaces já entendem como necessária a participação deste tipo de negócio em suas  plataformas. Nos meses de Setembro e Outubro, a nossa empresa de Branding foi parceira de um Programa do Mercado Livre chamado Empreender com Impacto + Biodiversidade, que contou com a inscrição de mais de 90 empreendimentos de impacto. A proposta do Programa era construir as lojas de cada marca na Plataforma e alavancar o consumo destes produtos alinhados às métricas do perfil de compras virtuais, com produção de conteúdo, funil de vendas e remarketing.

 

O Programa atendeu negócios dos principais biomas brasileiros, como a Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia, entre produtores de biocosméticos, chocolates, artesanato, bebidas, entre outros. Serviu como um grande passeio pela biodiversidade do Brasil, conhecendo frutos, raízes, sementes, árvores e histórias de diferentes culturas – muitos com dificuldades logísticas para acessar os grandes centro urbanos e comerciais – mas que tem a oferta pronta para atender o perfil de consumo contemporâneo, faltando apenas a construção dos elos de conexão que garantam acesso e desejo.

 

Nosso papel foi atender algumas das empresas que não dispunham de criação de marca ou embalagem adequadas às demandas dos consumidores nacionais – e até internacionais – interessados em marcas locais. Nosso entendimento geral foi que a maioria destas não conseguia traduzir de forma concreta o que era muito claro no discurso, na vivência e no conhecimento de causa. Utilizamos ferramentas como mapas mentais e moodboards para construir os universos gráficos possíveis e necessários para cada marca, corroborando com os principais atributos de cada local e seus saberes e fazeres.

 

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Na experiência com o Programa pudemos ver como estas empresas precisam de um trabalho mais extenso com as definições do Branding – e como algumas teorias da área ainda são pouco acessíveis e democráticas, por demandar esforços, estruturas e investimentos bem maiores, além do foco em alta escala pela conexão com uma grande massa de público. Dessa forma, buscamos pensar em uma construção de sentido para marcas que tenha as métricas do Branding mas conecte com os clientes de uma forma mais didática – sem perder a complexidade da construção estratégica para uma marca.

 

Construindo sentido para uma Marca-local

Dos biomas atendidos pelo Programa, o que mais possuímos afinidade é a Amazônia, por vivenciar de perto os dilemas de preservação e geração de riquezas – e pensando sempre em uma prosperidade viável economicamente considerando o que a Lala Deheinzelin chama de as 4 Dimensões da Economia – Social, Cultural, Ambiental e Financeira – em seu belíssimo conceito de Fluxonomia 4D. Este debate inclusive rompe – ou agrega – ao tão difundido tripé da Sustentabilidade, que prega o “Economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo”, incorporando a relevância da cultura como fator crucial para gerar economia.

 

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Entendendo isto tudo, buscamos estruturar uma metodologia sintetizada em um diagrama de Venn que compreende os eixos que acreditamos serem fundamentais para a construção de sentido de uma empresa: a Relevância, a Consistência e a Lucratividade. Por Relevância entendemos a natureza de cada marca, seus conceitos e causas que defende e a respaldam; a Consistência é a capacidade de manter a solidez de sua presença em diferentes canais, sem que a oferta perca performance; e a Lucratividade – apesar de óbvia – é o resultado expresso em números a partir da capacidade da marca no mercado e seu poder de venda. Porém, saindo da obviedade de cada eixo, a reflexão mais interessante para as marcas é que os três eixos são interdependentes e indissociáveis – sob o risco de cair no conservadorismo, instabilidade e ineficácia, conforme a figura abaixo:

 

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Quando uma marca é Consistente e Lucrativa, ela tende a relativizar as tendências e mudanças culturais, acreditando que exista uma zona de conforto de seu produto/serviço. A maioria das marcas mais tradicionais e longevas cai nesta armadilha, imaginando que as tendências são passageiras e que sua marca jamais perderá força. Essas são as marcas Conservadoras, que têm dificuldade de compreender as inovações e oportunidades que as transformações geracionais e tecnológicas agregam à cultura – e ainda não ativaram em suas estruturas a necessidade de agregar causas e políticas socioambientais às suas decisões estratégicas.

 

O caso de marcas Relevantes e Consistentes é a dificuldade de performar financeiramente. Falando especificamente da realidade dos empreendimentos da Bioeconomia – especialmente na Amazônia, de onde temos conhecimento de causa – existe um interesse de incentivo muito grande por parte de grandes organizações que visam associar suas marcas a causas ambientais e negócios de impacto no bioma que contém a maior biodiversidade do mundo. Porém, eventualmente são ideias que não darão a escala ou os resultados financeiros que se espera, a menos que altere as características originais de seus produtos – o que traz uma perda de sentido.

 

Neste ponto, é fundamental perceber que uma marca Lucrativa é a que tem resultado positivo após a subtração de seus custos. Os conceitos de Bioeconomia não devem seguir as mesmas regras de sucesso da Economia convencional, por isso a expectativa de grandes investimentos em determinados segmentos não deve ser tão alta, pelo potencial natural de cada cadeia. O ideal é entender determinados produtos como raros e únicos, ampliar a percepção de valor e vender para mercados dispostos a pagar mais pela história, cultura e raridade impressos nestas ofertas.

 

Por último, um dos principais dilemas da maioria das marcas que atendemos e as demais que buscam uma Economia de valor compartilhado: empresas Lucrativas e Relevantes, que não conseguem ter Consistência. São negócios que têm tradição, história, causas, construção coletiva em um território, saber tradicional aplicado – e estão conseguindo êxito financeiro ao participar de editais e interagir em meios de consumidores mais sofisticados e com possibilidades de projeção e ganho em novos mercados. Porém, sofrem com a dificuldade de conectar com as lógicas convencionais da Economia tradicional, e perdem poder de negociação quando comparados a produtos similares e banais.

 

Ser consistente é sublimar qualquer condição imposta e conquistar mercados a partir das verdades inerentes a cada produto. A riqueza da oferta deve ser estruturada para apresentar um valor natural em novas praças e canais, entendendo que a estrutura dessa riqueza reside em SER nos rico nos ativos intangíveis (tradição, valores, diversidade, história, cultura) – diferente de outros locais que ESTÃO ricos por seu desempenho educacional e político. Compreender isso ajudará na melhor estruturação da oferta, e consequentemente no caráter único do que um local pode oferecer.

 

Moçambique é um país muito rico, com muita diversidade cultural, recursos naturais, espaço, gente. É rico, mas ESTÁ pobre, por não conseguir priorizar processos de desenvolvimento a partir de seus ativos intangíveis (novas economias). Os recursos acabam sendo desperdiçados, pois as formas de organização , gestão ou participação política são frágeis (dimensão social), há muita corrupção e poucas relações são de confiança (dimensão cultural). Ao contrário, o Japão É um país pobre, porém ESTÁ rico. É pequeno, não tem espaço suficiente para cultivo de alimentos, está sujeito a terremotos e inverno rigoroso, mas conseguiu gerar abundância ao focar no cultural (educação, valores, tradição) e no social (visão coletiva). O povo e as instituições são confiáveis.

 

Este método é composto por quatro instâncias, se considerarmos o resultado central pretendido, que é o Sentido. No livro “Introdução à Fluxonomia 4D”, Lala Deheinzelin faz uma inferência sobre como o padrão da natureza se organiza em grupos de quatro: quatro pontos cardeais, quatro fases da lua, quatro estações do ano, os quatro elementos da ciência antiga. Portanto, segundo este estudo, as organizações sistêmicas são estruturadas em torno do número quatro. Abaixo, uma relação das quatro Dimensões da metodologia da Lala em comparação com outras estruturas:

 

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Dentro do diagrama da Performance da Marca em 3 eixos, podemos associar a Relevância ao Ambiental, por ser inerente à infraestrutura e espaço original de onde nasce a causa real de uma marca; a Consistência seria o Social, pela organização e cultivo necessários para a transformação; a Lucratividade seria a Financeira, pela paciência e tempo ideal para a colheita – e estes três reunidos trazem o Sentido associado ao Cultural, pois compreendendo os pontos anteriores podemos mentalizar e criar uma marca efetivamente coerente.

 

Todo este debate e processo aparentemente filosófico foi apresentado aos empreendedores de impacto em reunião virtual no dia 20 de outubro de 2021, onde pudemos explanar mais sobre a relação entre os 3 eixos (Relevância, Consistência e Lucratividade), e o porque deles reunidos construírem Sentido para uma marca. O retorno foi bastante positivo, com feedbacks associados à clareza das informações, didática e facilidade de compreensão do conteúdo. Por fim, foi apresentada uma ferramenta para o desdobramento dos conceitos de Branding em ações que impactam no Marketing, podendo as empresas administrarem a gestão de suas marcas de forma visual, prática e dinâmica, entendendo os resultados, custos envolvidos e relação entre cada ambiente.

 

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Conclusão 

Crescer “dói”. E é cheio de dilemas. Entendemos que uma marca fruto da Bioeconomia precisa respeitar seus limites – inclusive como é previsto na Economia Donut de Kate Raworth – em que a cidadania e os limites ecológicos ditam até onde a extração e uso de recursos naturais pode ir, e o mínimo que precisa ser resguardado de humanidade.

 

Existe um ditado popular muito famoso que diz que “o dinheiro não compra felicidade”. Dinheiro também não compra história, nem verdade: ou você herda, ou você constrói. Por isso, acreditamos que trabalhar o Branding para uma marca é muito mais complexo do que trabalhar estratégias e ações de Marketing. O Marketing pode traduzir um posicionamento comercial e promocional que garanta uma boa performance; já o Branding – quando bem estruturado e embasado – exige processos quase terapêuticos que demandam maturidade e uma sofisticada construção de sentido.

 

Nosso método ainda está em etapas de evolução, porém com resultados muito consistentes, colhidos nos últimos cinco anos em que foi administrado em empresas na Amazônia. Agora com esta oportunidade junto ao Mercado Livre de estender esses conceitos e ferramentas para empresas e produtos de outros biomas, pudemos confirmar a efetividade da construção de Sentido e da importância de envolver o cliente em todo o processo.

 

Apesar de termos responsabilidade técnica sobre a administração destes conteúdos, é muito importante valorizar um trabalho de transferência de conhecimento em que o empreendedor – especialmente o de um pequeno negócio tradicional e cultural – consegue compreender os conceitos, saber os porquês e entender suas aplicações, conseguindo gerir o trabalho de Branding com sua equipe e parceiros estratégicos.

 

A origem do termo “marcas com sentido” veio da necessidade de apresentar um conceito mais simples e menos assustador para empresários e empreendedores, em que os 22 significados do dicionário em português para a palavra “sentido”, 18 tem aderência com o que é necessário às marcas para estruturar seu Branding – ou melhor, seu sentido.

 

Aprofundando as ideias, convertemos os 18 termos em 15 premissas das marcas com sentido, os quais se interligam à construção/cocriação/definição/descoberta da essência de uma marca: Sensorialidade, Percepção, Prudência, Finalidade, Opinião, Coerência, Sensatez, Atenção, Intuição, Direção, Transcendência, Significado, Perspectiva, Lucidez e Alerta. Porém, o desdobramento deles é pauta para um próximo estudo.

 

Notas de Rodapé

2. este termo não tem relação com espiritualidade, e é constantemente associado por especialistas no assunto como a natureza abstrata e intangível mais íntima de uma marca.

3. Conceito criado pela economista Kate Raworth que propõe um modelo que responda aos desafios do século XXI, com escassez de recursos naturais e dados de humanidade críticos. A ideia é construir um alicerce social e um teto ecológico que garantam uma zona segura para empreender e viver.

4. Environmental, Social and Corporate Governance – é a gestão de uma consciência social e ambiental coletiva em uma organização.

5. Uma pesquisa da PWC de 2021 comprova o aumento do consumo de produtos relacionado à referência de produção. A pesquisa revela que os 3 pontos mais valiosos na decisão de compra são “itens mais saudáveis” (55%), acreditações de “referência de origem e procedência” (50%) e “embalagens mais sustentáveis” (46%).

6. Até outubro de 2021.

7. No ano de 2013, a Revista Estadunidense Wine Enthusiast (Wine, 2013) classificou essa região entre as “10 mais importantes do enoturismo mundial, figurando ao lado de regiões vinícolas mundiais tradicionais.” – https://exame.com/casual/os-melhores-destinos-de-viagem-para-amantes-de-vinhos/

8. Cases de Place Branding mundo afora: Auckland (New Zealand) | Barcelona (Spain) | Baselland (Switzerland) | Cannes (France) | Chile | Costa Rica | Dublin (Ireland) | Edmonton (Canada) | Guadalajara (Mexico) | Hamburg (Germany) | London Bridge (UK) | Peru | Uruguay | Verona (Italy) | Vienna (Austria) – Referencia: https://placebrandobserver.com/place-branding-examples/

9.  Estrutura idealizada pelo matemático John Venn (1834-1923) que prevê intercessões e correlações entre conjuntos.

10. Destaca-se que um aspecto relevante de todas as definições de bioeconomia é que ela emprega tanto processos produtivos baseados em conhecimentos tradicionais quanto processos baseados no uso intensivo de novos conhecimentos científicos e tecnológicos no campo das ciências biológicas, como os proporcionados pela biotecnologia, genômica, biologia sintética, bioinformática e engenharia genética, destinados à transformação de recursos naturais em bens e serviços de valor econômico e social (CNI, 2013).

 

Referências

Livros:

ALMEIDA, Eduardo, KISLANSKY, Kiko. O poder do Propósito – Como viver com mais sentido e potencializar resultados por meio do Método IKIGAI. 1ª Edição. Curitiba: Editora Vôo, 2019.
CARLSSON, Chris. Nowtopia – Iniciativas que estão construindo o futuro hoje. 1ª Edição. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2014.
DEHEINZELIN, Lala, CARDOSO, Dina. Novas Economias viabilizando futuros desejáveis – Introdução à Fluxonomia 4D. 1ª Edição. São Paulo: Editora Flux 4D Press, 2019.
ESTEVES, Caio. Place Branding – Identificando vocações, potencializando identidades, fortalecendo lugares. 1ª Edição. São Paulo: Editora Simonsen, 2016.
FOSTER, Hall. Design e Crime – e outras diatribes – tradução Alcione Cunha da Silveira e Jacques Fux. 1ª Edição. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2016.
LONGO, Walter, TAVARES, Zé Luis. O Marketing na Era do Nexo – Novos caminhos num mundo de múltiplas opções. 2ª Edição. São Paulo: Editora Best Seller, 2009.
QUELCH, John A., JOCZ, Katherine E. – tradução Arlete Simille Marques. Todos os Negócios são Locais – Por que em um mundo global é ainda mais importante ser local. 1ª Edição. São Paulo: Editora Portfolio-Penguin, 2014.
RAWORTH, Kate – tradução George Schlesinger. Economia Donut – Uma alternativa ao crescimento a qualquer custo. 1ª Edição. São Paulo: Editora Zahar, 2019.

 

Documentos eletrônicos:

SILVA, Martim F. O.; PEREIRA, Felipe S. CNI – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Bioeconomia: uma agenda para o Brasil. Brasília. Acesso em 10 outubro 2013.

Disponível em:  https://static.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/78/86/7886aeb1-57a8-4be2-9ad9-f8f31b176a8f/bioeconomia_uma_agenda_para_brasil.pdf

VALDUGA, Vander; OLIVEIRA, Braulio. Enoturismo no Vale dos Vinhedos/RS: uma análise da oferta e da demanda turística. Acesso em 27 janeiro 2016.

Disponível em: https://www.anptur.org.br/anais/anais/files/12/3.pdf

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